ALEXANDRE CAMARAO
Alexandre Camarao lives and works in Lisbon. He started making electronic music even before visual arts. His work spans a variety of media, including drawing, painting, video, music, and tapestry. The drawing is always the core.
The music is imported from an electronic universe of sequencers and synthesizers in a highly visual and intuitive way. The rhythmic presence of his sound compositions extends to the other supports in which he composes, namely the tapestry. Alexandre's work is an extensive and complex composition of drawings, words, images, and sounds. But as important as each of these elements is the "web" that supports and articulates the sets that these same elements form.
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Your work revolves around various media, such as drawing, painting, or tapestry. How do they interconnect and dialogue with each other? My work involves the assemblage of images, sounds, and words, and also the appropriation of multiple references such as art history, mythology, decorative arts, design, and music, oscillating between elements of pop and erudite culture, without hierarchies. The drawing is always the foundation, serving as both a preparatory element for other drawings, as well as a thought for tapestries and paintings. The relationship between the drawings and the final artwork may not always be direct and chronological. Sometimes, a 4-year-old drawing may be used as a base for a new painting or tapestry. However, drawing always ends up being an extension of thought and design. On the other hand, drawing, painting, and weaving have different speeds, which helps me in the creative processes of each of the disciplines. "Jumping" between them helps me build a thought about what I do.
Music, particularly electronic music, is frequently imported into your practice. How would you define this process? This process is always intuitive. I started making electronic music even before visual arts. I'm from the generation of sequencers like Logic, which graphically presents music. I read musical staves poorly, and for me, the musical creative process has always been very visual, not only through sequencers but also through the synthesizers themselves. I have always tried to have as much visual and tactile information as possible so they can be programmed more immediately. I've recently been using semi-modular synthesizers that literally use "wires" to connect to each other to build sounds and musical sequences. The use of rhythm is very prominent in my music compositions. All these aspects end up having their relationship with the materiality and construction of tapestries. Formal decisions here also involve a lot of intuition, that is, a kind of faith that something we don't know exactly how it will turn out will eventually work out. The process of creating tapestries involves many variations. Sketches on paper, digital simulations, making and even unmaking parts of the tapestries. However, the rhythmic composition also happens here, and the 'deviation', which is always welcome in these artistic matters, also occurs in textile production.
In your works, there is a significant presence of written words. How do you incorporate them and what impact do they have on the final product? The 'word' appeared mainly since my artistic residency in Los Angeles, where I began to explore the visual and graphic elements of words, including the meanings themselves, in font design, text visuality, song lyrics, and phonetics, following the basis of Concrete Poetry started in Brazil - a country that shares strong cultural ties with Portugal. These elements and questions are reflected and explored in tapestry methodologies and techniques, in their rhythms, different speeds, and materiality. A textile line can serve as a metaphor for the simple act of drawing a line on paper. The line, in tapestry, projects the drawing but, at the same time, creates its materiality, literally. For example, how most music is currently produced, through a precise and continuous repetition of sounds, loops, and the use of stutter effects, in addition to being similar to tapestry techniques, contributes to a metamorphosis of letters and their formal and phonetic characteristics. In recent tapestry works, I used material from musicians such as DJ Rashad, Robyn, or Brazilian singer Gal Costa, but also from artists/designers such as New Yorker Ben Duvall and the Portuguese duo Sara & André.
In addition to multidisciplinarity, collaboration is essential in your work process, visible in the duo ABCC (Alexandre Camarao+Bernardo Simões Correia). How do you transition between your work and that of the ABCC? In general, my work develops from the feeling that the continuous flow of images to which we are exposed - artists like everyone else - causes some blindness. The motivation to work (I imagine it is similar for all artists) consists of not supporting being a passive and uncritical vehicle of this flow. Although I believe that there is no point in trying to “oppose” this flow or seeking a sheltered position “outside” the flow - which would be the same as absenting ourselves from the world... This position is very similar to that of artist Bernardo Simões Correia towards images of the world. The images resulting from our work seem to come into tension, either autonomously or with each other, so we are not led to produce a stylistic “series” properly.
Finally, what are you currently working on? What can we expect soon? I am back to creating electronic music and planning to release it as a digital album shortly. I continue to develop the tapestry work, once again using the music of Gal Costa but also of Aphex Twin. The production of drawings (but less painting) is continuous - always! Finally, ABCC has several projects in hand: one of them consists of a workshop production that will materialize in the limited edition of 4 newspapers and a sound performance, a special edition for the artist Oscar Holloway in his magazine KNIPPERDOLLING, from Barcelona, and the graphic production of a book.
PT
Alexandre Camarao (Lisboa, 1972) vive e trabalha em Lisboa. Começou a fazer música electrónica ainda antes das artes visuais. O seu trabalho estende-se por diversos media, nomeadamente o desenho, a pintura, o vídeo, a música e a tapeçaria. A base é sempre o desenho.
A música surge de forma intuitiva e marcadamente visual, importada de um universo eletrónico de sequenciadores e sintetizadores. A presença rítmica das suas composições sonoras dilata-se para os outros suportes em que compõe, nomeadamente a tapeçaria. O trabalho do Alexandre configura-se como uma extensa e complexa composição de desenhos, palavras, imagens e sons. Mas tão importante como cada um desses elementos, é também a trama que sustenta e articula os conjuntos que esses mesmos elementos formam.
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O teu trabalho gravita em torno de vários media, como o desenho, a pintura ou a tapeçaria. De que forma se interligam e dialogam entre si? O meu trabalho baseia-se na agregação de imagens, sons e palavras, e na apropriação de múltiplas referências como a história da arte, a mitologia, as artes decorativas, o design e a música, oscilando entre elementos da cultura pop e erudita, sem hierarquias. A base é sempre o desenho. Tanto como elemento preparatório de outros desenhos, como pensamento para tapeçarias e pinturas. A relação pode não ser directa e cronológica. Eventualmente posso usar um desenho com 4 anos para uma nova pintura ou tapeçaria. Mas o desenho acaba sempre por ser uma extensão do pensamento e é também desígnio. Por outro lado, desenhar, pintar e tecer têm velocidades diferentes, o que, para mim, me ajuda nos processos criativos de cada uma das disciplinas. Ir "saltando" entre elas, ajuda-me a construir um pensamento sobre o que faço.
A música, particularmente a música eletrónica, é importada recorrentemente para a tua prática. Como definirias este processo? Este processo é sempre intuitivo. Comecei a fazer música electrónica ainda antes de artes visuais. Sou da geração dos sequenciadores como o Logic, que apresentam a música de uma forma gráfica. Leio mal pautas, e para mim, o processo criativo musical sempre foi muito visual, não só através dos sequenciadores como dos próprios sintetizadores, os quais sempre procurei ter com o máximo de informação visual e táctil para serem mais imediatamente programados. Recentemente tenho usado sintetizadores semi-modulares que literalmente usam "fios" para se ligarem uns aos outros na construção de sons e sequências musicais. A presença rítmica é muito preponderante nas minhas composições sonoras. Todos estes aspectos acabam por ter uma relação própria com a materialidade e construção da tapeçaria. As decisões formais, passam aqui também muito por intuições, ou seja, um espécie de fé de que algo que não sabemos bem como irá ficar, irá eventualmente resultar. Ao longo do processo há muitas variações, claro. Esboços em papel, simulações digitais, fazer e até desfazer partes das tapeçarias. No entanto, a composição rítmica também aqui acontece, e o "desvio", que é sempre bem vindo nestas questões artísticas, também tem lugar na produção têxtil.
Nas tuas obras existe um lugar importante reservado à palavra escrita, bastante visível nas tuas obras têxteis. Como surge a palavra e que marca deixa na obra final? A palavra surge principalmente desde a minha residência artística em Los Angeles, onde comecei a explorar os elementos visuais e gráficos das palavras, incluindo os próprios significados, no desenho de fontes, na visualidade do texto, nas letras de música e na fonética, seguindo a base da Poesia Concreta iniciada no Brasil - um país que partilha fortes laços culturais com Portugal. Estes elementos e questões são reflectidos e explorados nas metodologias e técnicas de tapeçaria, nos seus ritmos, velocidades diferenciadas e materialidade. Uma linha têxtil pode funcionar como uma metáfora para o simples acto de desenhar uma linha numa folha de papel. A linha, na tapeçaria, projecta o desenho mas, ao mesmo tempo, cria a sua materialidade, literalmente. A título de exemplo, a forma como a maior parte da música é produzida atualmente, através de uma repetição precisa e contínua de sons, de loops e da utilização de efeitos stutter, para além de ser semelhante às técnicas de tapeçaria, contribui para uma metamorfose das letras e das suas características formais e fonéticas. Nos últimos trabalhos de tapeçaria, tenho vindo a utilizar material de músicos como DJ Rashad, Robyn ou a cantora brasileira Gal Costa, mas também de artistas/designers como o nova-iorquino Ben Duvall e a dupla portuguesa Sara & André.
Para além da multidisciplinaridade, a colaboração é essencial no teu processo de trabalho, visível no duo ABCC (Alexandre Camarao+Bernardo Simões Correia). Como é feita a passagem entre o teu trabalho individual e o dos ABCC? De uma forma geral o meu trabalho individual desenvolve-se a partir da sensação de que o fluxo contínuo de imagens ao qual estamos expostos - os artistas como todos os outros - provoca uma “cegueira”. A motivação para trabalhar (imagino que seja semelhante para todos os artistas) consiste em não suportar ser um veículo passivo e a-crítico desse fluxo, embora acredite que de nada serve tentarmos “contrariar” esse fluxo ou procurarmos uma posição resguardada “fora” do fluxo - o que seria o mesmo que ausentarmo-nos do mundo...
Esta posição perante as imagens do Mundo é muito semelhante à do artista Bernardo Simões Correia. As imagens resultantes do nosso trabalho parecem entrar em tensão, quer autonomamente quer entre si, pelo que não somos levados a produzir propriamente “séries” estilísticas.
Por último, em que estás a trabalhar atualmente e o que podemos esperar para breve? Neste momento, voltei a desenvolver mais a produção de música electrónica com vista a um futuro lançamento de um álbum digital. Continuo a desenvolver o trabalho em tapeçaria, uma vez mais recorrendo à música de Gal Costa mas também de Aphex Twin. A produção de desenho (mas menos pintura) é contínua - sempre! Por fim, os ABCC estão com vários projectos em mãos: um deles consiste na produção de um workshop que se irá materializar na edição limitada de 4 jornais e uma performance sonora, uma edição especial para o artista Oscar Holloway na sua revista KNIPPERDOLLING de Barcelona, e a produção gráfica de um livro.