TERESA ARÊDE

Air is the essential element that enables the production of sound through the human voice. The intricate process of air flows and trajectories is dependent on the architecture of the human body, and although invisible, it is crucial to the production of speech and singing. Teresa is deeply fascinated by the voice, sounds, and singing, and is always exploring different techniques, processes, and forms to make this invisible process visible. She is driven by a desire to better understand and showcase the hidden complexities of it.

Teresa Arêde (Viseu, 1991) lives and works in Porto. Her work is a combination of visual and sound elements, which is a reflection of her training in visual arts and classical music. Specifically, she has a background in lyrical singing. By merging these two areas, she creates several different narratives that break down various elements and references from each field. This process enables her to materialize her own concerns.


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We talked about air, structures, trajectories, and movements of that same air. How do these questions materialize in your work? Air fascinates me, especially with the voice. My academic journey has always been divided between music, particularly lyrical singing, and visual arts. Currently and throughout my artistic practice, these areas blend without any rules. But it was really through the voice, and as a singing student, that I became interested in the simplicity and power of the gases that we breathe and that allow us to make sound. Without air, the vocal cords would not vibrate, nor would the resonance spaces be occupied. Air is, in a way, the matter (clay) that the body molds, giving shape to words, songs, and sounds. My work is a means of exploring my concerns. Thinking about the shape of air is also inventing the invisible - and it is these mental places that, more or less obsessively, I place on sheets of paper, small sculptures, and sound objects. I am no stranger to my, commonly human, stubbornness to make the invisible visible - but this process is also that of fiction, and for me, fictionalizing or inventing, is a kind of survival mechanism. I can give an example of a series of recent works, in which, based on drawings and paintings, I thought about the path of the air at the moment of singing. In a way, and through the very repetition of symbols, the drawings end up culminating in abstractions, and atmospheric things. But that pleases me. Learning to sing, or to better understand our vocal instrument, is always largely metaphorical, and drawing is an essential tool.

Your artistic practice clearly shows us a cohabitation between a visual and a sound universe. How does this happen and how does it translate into the construction of your narrative? In the beginning, this cohabitation was extremely complicated. I felt like I needed some courage to bring these two worlds together, mainly because my training in the area of sound begins with classical music. I always knew there was a significant gap between what was expected of me in the classical music world and what I wanted to achieve as an artist. These prejudices may have been self-generated, it is true, but within the world of classical music, the rules are always clearly defined. There are certain protocols that musicians must follow, which can limit their creative freedom. Around 6 years ago, I decided to confront my fears, breaking free from my formal education and experimentally using my knowledge - thus injecting little bits of voice, opera, and sound into all my work. All of this influenced what my visual universe is today. This relationship is no longer defined as cohabitation, but rather as a partly symbiotic relationship between the two universes. What I end up including in my practice is at the confluence of what is sound and visual, but based on a narrative, an intimate question, a concern.

Many of your references, coming from medieval illuminations or the most diverse scientific sources, are imported and decontextualized by you later. How do you see this research and its importance in the final work? Researching references has always been an obsession of mine. I enjoy creating archives of these images and engaging in a form of unstructured collecting. What interests me, especially in older visual elements, is thinking about how to look at a world very distant from us. I'm fascinated by the illustrated form of allegories, myths, and even pieces of real life. I'm interested in how, in our eyes, all three of these categories mix. I often find myself getting lost in images, and it can be quite addictive. However, with rare exceptions, I do not usually use these images in their entirety, or even in fragments, in my work. For some reason, I prefer them to live in a cloud that hovers over what I do but doesn't define it. I would even say that my literary and sound influences have a greater weight in the work's final form.

On the other hand, we also see a continuous process of experimentation with materials, techniques, and procedures. How would you define this process? I always end up surrounding myself with a family of objects, such as drawings, that influence each other. My work process is quite long, it always starts uncertain, and never follows a planned path. I have learned to appreciate these inconsistencies and have adapted to them. This process of experimentation, which involves a little wandering, allows me to try out different ways of doing things that are quite distinct from each other. And for me, this is something that excites me - the uncertainty and the many arms of what I can create.

Finally, what are you currently working on? What can we expect soon? I am currently working on two shows to open in February. On the 3rd, at Armazém Fundo (Térmita) in Porto. This exhibition, Aparição, features my studio colleagues, Teresa Arega and Hugo Flores. On the 22nd, I'll participate in the Bastidor project, at the Escola Superior de Educação do Porto, curated by Alexandre Teixeira, Fábio Araújo, and Rui Mota. In February, I will also conduct a workshop that I have been working on for the past year. It combines voice and graphic notation and will be held at the Centro Internacional das Artes José de Guimarães. I also highlight the exhibition, with my studio colleagues, at Plato, in July this year.

PT

O ar é a matéria-prima que permite a produção do som e da voz humana. O processo de fluxos e trajetórias de ar depende da arquitetura do corpo humano e, embora invisível, é crucial para a produção da fala e do canto. A Teresa é profundamente fascinada pela voz, pelos sons e pelo canto, e explora obsessivamente diferentes técnicas, processos e formas de tornar visível essa invisibilidade.

Teresa Arêde (Viseu, 1991) vive atualmente no Porto. O seu trabalho reflecte uma coabitação entre um universo visual e um sonoro, resultado da sua formação em artes plásticas e música clássica, nomeadamente em canto lírico. Dessa simbiose surgem diversas narrativas faccionais, que desconstroem elementos e referências de cada área para criar diversas narrativas, para materializar as suas próprias inquietações.


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Falámos sobre “ar”, sobre estruturas, trajetórias e movimentos desse mesmo ar. Como se materializam essas questões no teu trabalho? O ar fascina-me principalmente em relação à voz. O meu percurso a nível académico foi sempre dividido entre a música, nomeadamente o canto lírico, e as artes plásticas. Actualmente e na minha prática artística, estas são áreas que se misturam sem regra. Mas foi realmente a partir da voz, e enquanto aluna de canto, que me interessei pela simplicidade e poder do gás que respiramos e que nos permite fabricar som. Sem ar, as cordas vocais não vibrariam, nem os espaços de ressonância ficariam ocupados. O ar é, de certa forma, a matéria (o barro), que o corpo molda, dando forma às palavras, ao canto, aos sons. O meu trabalho é sempre uma forma de pesquisar as minhas inquietações. Pensar a forma do ar, é também inventar o invisível - e são esses lugares mentais que, de forma mais ou menos obsessiva, vou colocando em folhas de papel, pequenas esculturas, objectos sonoros. Não sou alheia à minha teimosia, comummente humana, de fazer visível o invisível - mas esse processo, é também o da ficção, e para mim, ficcionar ou inventar, é uma espécie de mecanismo de sobrevivência. Posso dar um exemplo concreto de uma série de trabalhos recentes, em que a partir de desenhos e pinturas, fui pensando o trajecto do ar no momento do canto. De certa forma, e pela própria repetição dos símbolos, os desenhos acabam por culminar em abstrações, coisas atmosféricas. Mas isso agrada-me. Aprender a cantar, ou a entender melhor o instrumento que transportamos, é sempre largamente metafórico, e o desenho é uma ferramenta essencial.

A tua prática artística mostra-nos, de forma vincada, uma coabitação entre um universo visual e um universo sonoro. De que modo isto se processa e como se traduz na construção da(s) tua(s) narrativa(s). No início, esta coabitação era extremamente complicada. Sinto que precisei de alguma coragem para juntar estes dois mundos, principalmente porque a minha formação na área do som começa na música clássica. Sempre percebi que existia uma grande fricção entre aquilo que me era exigido no universo da música clássica, e aquilo que queria fazer enquanto artista plástica. Estes preconceitos podem ter sido auto-gerados, é verdade, mas dentro do mundo da música erudita, as regras estão sempre bastante delineadas - há certos protocolos a cumprir, e ao músico é-lhe retirada muita da sua liberdade criativa. Só há cerca de 6 anos, é que decidi ultrapassar o medo e as rédeas tão fortes da minha educação formal, e usar o meu conhecimento de uma forma experimental - injectando assim bocadinhos de voz, ópera e som em todo o meu trabalho. Tudo isto influenciou o que é, actualmente, o meu universo visual. De facto, esta relação já nem se define como uma coabitação, mas como uma relação em parte simbiótica entre os dois universos. Aquilo que acabo por incluir na minha prática, encontra-se na confluência do que é sonoro e visual, mas que tem por base uma narrativa, uma questão íntima, uma inquietação.

Muitas das tuas referências, vindas de iluminuras medievais ou das mais diversas fontes científicas, são importadas e descontextualizadas por ti posteriormente. Como vês esta pesquisa e a importância na obra final. A pesquisa de referências foi sempre uma obsessão minha. Gosto de criar arquivos com estas imagens e especular uma forma de coleccionismo desorganizado. O que me interessa, principalmente nos elementos visuais mais antigos, é pensar a maneira de olhar um mundo muito distante de nós. Fascina-me a forma ilustrada tanto de alegorias, lendas e mesmo pedaços da vida real - interessa-me como, aos nossos olhos, todas essas três categorias se misturam. Posso dizer que fico muitas vezes afogada em imagens, e que se torna verdadeiramente viciante. No entanto, e com raras excepções, não costumo usar estas imagens integralmente, ou mesmo fragmentadas, nos meus trabalhos. Por alguma razão, prefiro que vivam numa nuvem que sobrevoa aquilo que eu faço, mas que não o define. Diria até que as minhas influências literárias e sonoras têm um maior peso na forma final do trabalho.

Por outro lado vemos também um processo contínuo de experimentação de materiais, técnicas, de formas de atuação. Como definirias este processo? Acabo por construir sempre uma espécie de família de objectos à minha volta, desenhos, coisas que se vão influenciando umas às outras. O meu processo de trabalho é bastante longo, começa sempre incerto, e nunca percorre um caminho planeado. Aprendi a adaptar-me a estas inconsistências, que tenho vindo a prezar muito mais. Esta espécie de processo, um pouco errante, permite-me experimentar formas de fazer bastante distintas umas das outras. E isto para mim é sempre algo que me entusiasma - a incerteza e os muitos braços daquilo que posso criar.

Por último, em que estás a trabalhar atualmente e o que podemos esperar para breve? Neste momento estou a trabalhar para duas exposições, já para o próximo mês de Fevereiro. Dia 3, no Armazém Fundo (Térmita) no Porto, inaugurará Aparição, uma exposição que conta também com os colegas de estúdio (departamento), Teresa Arega e Hugo Flores. Dia 22, participo no projecto o Bastidor, na Escola Superior de Educação do Porto, a convite de e com curadoria de Alexandre Teixeira, Fábio Araújo e Rui Mota. Ainda em Fevereiro, darei a oficina que tenho desenvolvido no último ano, em que combino voz e notação gráfica, no Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Destaco também a exposição, ainda com os colegas do departamento, na galeria Plato, em Julho deste ano.

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