DEAR ANUSHKA
Dear Anushka uses public space as a stage, where she intervenes with fragmented notes that she leaves behind. Each discarded mattress becomes a receptacle for a message that reflects onto the passerby (spectator). Through irony and humor, sometimes tragic, each object resulting from her practice serves as a critique of the present, this contemporary era of the ‘meme’.
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How would you describe your practice? My project with abandoned mattresses is about bringing attention to what’s forgotten or overlooked, inspired by the world around me. Once deeply personal and intimate, these mattresses are left in public spaces, and I feel the need to give them a voice—transforming them into canvases for poetry and reflection. My ideas come from everyday life: emotions, music, art, and books. I often write down thoughts or phrases so I don’t lose them. When the moment feels right, and I don’t have a spontaneous phrase in mind, I use those notes to tag a mattress. With my words, I hope to start a conversation—between the mattress, its story, and the people who see it on the street.
How do you define your work process? I work pretty intuitively and try not to force myself into creating something ‘perfect.’ Creativity flows better when my mind is open. There’s this adrenaline rush when I come across a mattress while I’m out, knowing I must act on the spot. Since I don’t keep mattresses in a studio, it’s always a quick decision—tag it or leave it. Most of my work happens in the moment, which keeps it alive and exciting. I pay attention to the condition and surroundings of the mattress when thinking about what to write. It’s important to me to give the mattress the right voice, not just something random. Afterward, I take photos and videos, documenting its story. Honestly, I think I know mattress patterns and stains better than anyone except maybe the garbage collectors. I almost always carry a spray can, just in case. But sometimes I leave it behind and tell myself, 'Today’s a break. No work.' The funny thing is, even on those “off” days, I still find myself scanning the streets for mattresses. My city walks have basically turned into mattress hunts, so yeah, I guess I’m always working, haha.
What does the mattress symbolize? For me, a mattress is so much more than just an object to sleep on—it’s like a stage for some of life’s most intimate and transformative moments. We’re born on them, we dream on them, we love on them, we cry on them, and sometimes we even die on them. When a mattress gets abandoned, it’s still holding all those layers of memories, emotions, and hopes. To me it’s a powerful symbol of where the personal meets the public, and where something private becomes something discarded.
If you combine all the poems from all the mattresses you ever made into one book, what would be the plot? I’ve always dreamed of writing a book of short stories, and gathering all the poems from the mattresses could make that dream come true—a poetic collection. It wouldn’t have a clear beginning, middle, or end. Instead, it would be like a kaleidoscope of emotions, showing how beautifully messy life can be. The “plot” would explore life’s little truths, moments of vulnerability, and the raw beauty found in unexpected places. A collection of human experiences, captured on worn-out mattresses, ready to be reimagined into something new.
Finally, what are you currently working on? I hope 2025 brings just as much chaos and beauty as 2024 did! I’d love to take my work to the next level. I imagine showcasing my mattress photos in the size of an actual mattress. I’m also eager to get more creative with preserving mattresses as objects that complete a full life cycle: starting as a bed in someone’s home, then abandoned on the street, and finally finding a new home—not in a bedroom, but as art on a wall. And of course, I’m dreaming of traveling to new places, exhibiting in different countries, and seeing how my work resonates with people from all over. The world is full of mattresses waiting to be tagged, and I can’t wait to discover what’s next.
A Dear Anushka utiliza o espaço público como um palco, onde intervém com anotações fragmentadas que vai abandonando. Cada colchão descartado é receptáculo de uma mensagem que se reflecte no transeunte (espectador). Através da ironia e do humor, por vezes trágico, cada objecto que resulta da sua prática é uma crítica ao agora, a esta era contemporânea do ‘meme’.
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Como descreverias a tua prática? O meu projeto com colchões abandonados tem como objectivo chamar a atenção para o que é esquecido ou negligenciado, inspirado no mundo à minha volta. Esses colchões, que já foram profundamente pessoais e íntimos, são deixados no espaço público. Sinto a necessidade de lhes dar uma voz, transformando-os em suportes para a minha poesia e reflexão. As minhas ideias vêm do quotidiano: emoções, música, arte e livros. Muitas vezes escrevo pensamentos ou frases para não as esquecer. Quando o momento parece certo, e não tenho uma frase em mente, uso essas notas para deixar um “tag”num colchão. Com essas palavras, espero iniciar uma conversa — entre o colchão e a sua história, e as pessoas que o encontram na rua.
Como caracterizas o teu processo de trabalho? Trabalho de forma bastante intuitiva e evito forçar-me a criar algo "perfeito". A criatividade flui melhor quando a mente está aberta. Sinto uma adrenalina quando me deparo com um colchão durante os meus passeios, sabendo que preciso agir imediatamente. Como não guardo colchões num estúdio, é sempre uma decisão rápida—taggear ou deixá-lo. A maior parte do meu trabalho acontece no momento, o que mantém o processo vivo e emocionante. Presto atenção ao estado do colchão e ao seu contexto quando penso no que escrever. Para mim, é importante dar ao colchão uma voz adequada, e não apenas algo aleatório. Depois, tiro fotos e gravo vídeos e sinto que estou a documentar a sua história. Para ser honesta, acho que conheço os padrões e manchas de colchões melhor do que qualquer pessoa, talvez apenas os lixeiros me superem. Quase sempre carrego uma lata de spray comigo, por precaução. Mas às vezes decido deixá-la em casa e digo a mim mesma: "Hoje é um dia de folga. Nada de trabalho." Engraçado é que, mesmo nesses dias de “descanso”, ainda me vejo a vasculhar as ruas à procura de colchões. Os meus passeios pela cidade transformaram-se basicamente em caças a colchões. Então, sim, acho que estou sempre a trabalhar, haha.
O que simboliza o colchão? Para mim, um colchão é muito mais do que um objeto para dormir, é como um palco para alguns dos momentos mais íntimos e transformadores da vida. Nascemos sobre eles, sonhamos sobre eles, amamos sobre eles, choramos sobre eles e, por vezes, até morremos sobre eles. Quando um colchão é abandonado, ainda guarda todas essas camadas de memórias, emoções e esperanças. Para mim, simboliza o encontro entre o pessoal e o público, entre o íntimo e o descartado.
Se juntasses os poemas de todos os colchões num livro, qual seria o enredo? Sempre sonhei em escrever um livro de contos, e juntar todos os poemas dos colchões poderia realizar esse sonho— uma coleção poética. Não teria um começo, meio ou fim. Seria mais como um caleidoscópio de emoções, mostrando como a vida pode ser confusa e bela ao mesmo tempo. O “enredo” exploraria as pequenas verdades da vida, momentos de vulnerabilidade e a beleza crua encontrada nos lugares mais inesperados. Uma coleção de experiências humanas, capturadas em colchões desgastados, prontas para serem reimaginadas de uma forma nova.
Por último, em que estás a trabalhar atualmente? Espero que 2025 traga tanto caos e beleza quanto 2024 trouxe! Gostaria de levar o meu trabalho para um próximo nível. Imagino as fotografias dos meus colchões ampliadas ao tamanho de um colchão real. Também estou entusiasmada por explorar novas formas de preservação dos colchões. Como objetos que completam um ciclo de vida: começam como camas em casas, são abandonados na rua e, por fim, encontrariam um novo lar. Não num quarto, mas como obra exposta numa parede.
E, claro, sonho em viajar para novos lugares, expor em diferentes países e ver como o meu trabalho ressoa com pessoas de todo o mundo. O mundo está cheio de colchões à espera de serem taggeados, e mal posso esperar para descobrir o que vem a seguir.