EDUARDO ANTONIO
Eduardo Antonio reflects on multiple issues in his paintings, drawing from the moments and places he has experienced, creating a narrative that unfolds across his various works. Without worry or haste to reach a specific destination, his art flows in a dialogue between the memory of the past and the unknown yet to come.
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How would you describe your practice in painting? My practice in painting comes from a very personal and intimate place. It is a space where I can pause and reflect on life and other issues that matter to me. I say it is personal because, besides drawing many references from my past, such as places I have lived and old family photographs, there is always a synchronicity between what I paint and the moment I am living. In this personal aspect, I realize that some dialogues with the history of painting have emerged in my work, which I see as a part of my life. Due to my distance from the landscapes and references I paint — primarily related to Brazil — the history of painting has significantly influenced the imagery I pursue in my work.
How do you define your work process? My painting process is very much linked to my involvement with the practice. My work mainly develops within the studio. I typically begin with an idea, create drawings, and explore my direction throughout the process without defining a specific path or goal. I believe that painting carries something mysterious and inexplicable that I try to preserve, which only manifests in the act of painting. Often, one painting gives rise to others, as if one idea leads me to think of new possibilities. In this process, relationships emerge that happen only between the images, in a thought that seems more connected to the unconscious and the dreamlike, something I do not try to explain or control. The selection of materials is highly important to me. I am constantly experimenting and researching different techniques, paints, and supports. These discoveries and experiments somewhat diminish my control over the painting, allowing me to integrate accidents into the process. It’s as if I include the unknown and leave a certain type of mystery present in everything I do.
Is there a narrative that interconnects the various paintings over the past years? Typically, the images I work with end up manifesting through narratives. I believe this may stem from my background in cinema before pursuing painting. What connects all these ideas is my own life; I don't worry about following a specific line or theme. Sometimes, one idea or painting evolves into others that engage in a dialogue on the same theme. I have worked on a series of paintings focused on themes such as theater, circus, or the idea of constructions and houses. I avoid limiting my actions to a specific theme, allowing ideas to emerge naturally. Even so, I perceive a journey and some elements that repeat in my work. It is almost always possible to create relationships between the paintings. What connects them may be my style of painting or my perspective on the art of painting. This lack of concern for a specific theme or narrative ultimately links the works together.
In what way(s) are the different landscape concepts explored in your works? Landscape has always been a significant element in my work. When I began painting, I lived in Florianópolis, Brazil—a city where nature is essential. This sparked my interest. Florianópolis is abundant in beaches, lagoons, and mountains, and I have created many paintings that depict this place. After I moved to Portugal, I realized how distance made me see these landscapes differently. Working with references that are no longer present allows me to fill these memories with something new, with feelings linked to what was left behind. It evokes a sense of nostalgia or melancholy for a past or place that only exists in my memory. Painting often acts as a means to recreate something I desire, helping to fill an emptiness within me. When I arrived in Lisbon, I started to paint, without understanding, many houses and buildings in Florianópolis, perhaps as a way of feeling at home in this new place. Over time, this aspect faded away, and it is no longer evident in my work today. I enjoy living in Portugal, but I have not yet discovered landscapes that truly spark my interest. Perhaps because it's so close, I haven't yet gained the necessary distance to miss and, therefore, to paint this place.
Finally, what are you currently working on? I am currently returning to painting after a period of hiatus. I have been working mainly with large formats and using casein as the primary medium. I feel like this break was an opportunity to rethink my work, start from scratch, and, at the same time, let the process flow without over-planning. I have been exploring the theme of night in my paintings, which have appeared multiple times in my work. The night, as a way of concealing elements and suggesting mystery, really interests me. For me, it’s like looking at my memories, which are also unclear and undefined. I know that painting itself already involves this game of revealing and hiding, but the idea of night makes this even more evident. It’s hard to say which direction my work will take or what to expect from it because I don’t even know. Perhaps what can be expected from my work is a search for something new and unknown.
Eduardo Antonio reflecte na pintura múltiplas questões que importa dos momentos e lugares pelos quais passou, compondo uma narrativa que se vai construindo entre as suas várias pinturas. Sem preocupação, sem pressa para chegar a um lugar específico, o seu trabalho flui, num jogo entre a memória do passado e do desconhecido que ainda está por vir.
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Como descreverias a tua prática na pintura? A minha prática na pintura vem de um lugar muito pessoal e íntimo. É um espaço onde posso parar e refletir sobre a vida e outras questões que me importam. Digo que ela é pessoal porque, além de buscar muitas referências no meu passado, como lugares onde já vivi e fotografias antigas de família, sempre existe uma sincronia entre aquilo que eu pinto e o momento em que estou vivendo. Ainda nessa questão pessoal, percebo que têm aparecido no meu trabalho alguns diálogos com a própria história da pintura, algo que vejo como parte da minha vida. Talvez por estar distante das paisagens e referências que pinto — em sua maioria, ligadas ao Brasil —, a própria história da pintura tem passado a compor esse imaginário que procuro ao pintar.
Como caracterizas o teu processo de trabalho? O meu processo na pintura é muito ligado ao envolvimento com a prática. Meu trabalho se desenvolve principalmente dentro do ateliê. Normalmente, parto de uma ideia, começo a fazer desenhos e vou descobrindo onde quero chegar ao longo do processo, sem tentar definir um caminho ou objetivo específico. Acho que a pintura carrega algo misterioso e inexplicável que tento preservar, e que só se manifesta no ato de pintar. Muitas vezes, uma pintura dá origem a outras, como se uma ideia me levasse a pensar em novas possibilidades. Nesse processo, surgem relações que acontecem apenas entre as imagens, num pensamento que me parece mais ligado ao inconsciente e ao onírico, algo que não tento explicar nem controlar. A questão dos materiais é muito importante para mim. Estou constantemente experimentando e pesquisando técnicas, tintas e suportes diferentes. De alguma forma, essas descobertas e experimentos retiram um pouco do controle que tenho sobre a pintura, permitindo-me incorporar acidentes ao processo. É como se eu incorporasse o desconhecido e deixasse um tipo de mistério presente em tudo o que faço.
Existe uma narrativa que interliga as várias pinturas ao longo dos últimos anos? Normalmente, as imagens com as quais trabalho acabam se manifestando através de narrativas. Acho que isso pode ser fruto da minha formação em cinema, anterior à pintura. O que interliga todas essas ideias é a minha própria vida; não me preocupo em seguir uma linha ou tema específicos. Apesar disso, muitas vezes, uma ideia ou pintura acaba se desenvolvendo em outras que dialogam dentro de um mesmo tema. Já trabalhei séries de pinturas voltadas para temas como teatro, circo ou a ideia de construções e casas. Tento nunca limitar o que faço a um tema ou conceito, deixando as ideias surgirem de forma natural. Mesmo assim, percebo um percurso e alguns elementos que se repetem no meu trabalho. Quase sempre é possível criar relações entre as pinturas. Talvez o que as interliga seja a maneira como pinto ou como encaro a pintura. Essa despreocupação com um tema ou narrativa específicos acaba por criar uma ligação entre as obras.
De que forma(s) são explorados os vários conceitos de paisagem nas tuas obras? A paisagem sempre desempenhou um papel importante no meu trabalho. Quando comecei a pintar, morava em Florianópolis, no Brasil, uma cidade onde a natureza tem uma presença muito marcante. Isso despertou meu interesse. Florianópolis é repleta de praias, lagoas e montanhas, e já pintei muitos quadros que fazem referência a esse lugar. Depois que me mudei para Portugal, percebi como a distância me fez enxergar essas paisagens de outra maneira. Trabalhar com referências que não estão mais presentes permite que eu preencha essas memórias com algo novo, com sentimentos ligados ao que ficou para trás. É uma espécie de nostalgia ou melancolia por um passado ou lugar que não existe mais para mim, exceto na memória. A pintura, muitas vezes, ocupa esse lugar de tentativa de recriar algo que eu gostaria de ter presente comigo, preenchendo uma ausência. Quando cheguei a Lisboa, comecei a pintar, sem perceber, muitas casas e construções de Florianópolis, talvez como uma forma de me sentir em casa nesse novo lugar. Com o tempo, isso foi desaparecendo, e hoje não está mais tão evidente no meu trabalho. Gosto de viver em Portugal, mas sinto que ainda não encontrei paisagens daqui que despertem o mesmo interesse. Talvez por estar tão próximo, ainda não adquiri a distância necessária para sentir falta e, assim, pintar esse lugar.
Por último, em que estás a trabalhar atualmente? Atualmente, estou voltando a pintar depois de um período parado. Tenho trabalhado principalmente com grandes formatos e usando a caseína como técnica principal. Sinto que essa pausa foi uma oportunidade de repensar meu trabalho, começar do zero e, ao mesmo tempo, deixar o processo fluir, sem planejar muito. Recentemente, tenho explorado a temática noturna em minhas pinturas, algo que já apareceu algumas vezes no meu trabalho. A noite, como forma de ocultar elementos e sugerir mistério, é algo que realmente me interessa. Para mim, é como olhar para minhas memórias, que também não são claras nem definidas. Sei que a pintura, por si só, já carrega esse jogo de revelar e esconder, mas a ideia da noite torna isso ainda mais evidente. É difícil dizer que caminho meu trabalho seguirá ou o que esperar dele, porque nem eu mesmo sei. Talvez seja isso que pode ser esperado no meu trabalho, uma busca por algo novo e desconhecido.