MARIANA REBOLA

Mariana Rebola uses various media, such as photography, video performance, and printing techniques, to portray women in adult life. Despite using self-representation, her work presents an intimate set of visual metaphors, representing various concerns, particularly arising from gender relations, power, affirmation, and personal frustration.


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How would you describe your work? My work currently combines various media, including photography, video performance, and printing techniques, to depict the cultural and emotional constraints women face in adulthood. Despite the use of intimate imagery and self-representation, the work is embedded with visual metaphors that I consider transversal and representative of the concerns of adult experience, particularly when it comes to gender relations, power, and personal affirmation or frustration. I frequently use archival images of natural and supernatural artifacts, fragments, phenomena, or beings, evoking a primal and exploratory perspective inherent to our bodily existence.

How do you define your work process? It is a challenging process characterised by occasional successes and a thorough search. It is fundamentally based on seeking symbolic images that I find second-hand and previously discarded, as well as on the video recording and photographic capture of the body in various states of effort, posture, and movement. By mixing and layering images of a somewhat anonymous body, evocative compositions emerge that often relate to unhappy, troubled, or confusing experiences. Like a therapeutic practice, at times. However, I hope that the result is not too premeditated, moralistic, or referential and that the work does not exist only as a self-portrait. More indirectly, my process also draws on literary influences. I value many writers who, in their work, balance individual circumstances with a captivating and sensitive quality. That surrounds us in the multiplicity of human experience and perception, individual or collective, portraying different levels of dazzle as the world or violence, the crossroads of reality. Writers such as Etel Adnan, Toni Morrison, Maya Angelou, Jeanette Winterson, Annie Ernaux - ou Luiza Neto Jorge, Sophia de Mello Breyner, ou Maria Lamas.

What criteria do you use in selecting and appropriating images for your work?  The images I find can be taken from books on history, the natural world, mythology, good manners, archaeology, jewellery, architecture, or “beauty” and fashion magazines… It depends on what I find and what makes sense, in different moods. I am careful to avoid a foolish appropriation of references disconnected from my past, culturally or personally. As for personal images where the body appears, I print almost all still-frames from a video and any photo I take; because sometimes, the most natural or relaxed poses are the ones most disposed to strong meanings, and some social charge. It is difficult to predict how “good” or “bad”, in utilitarian terms, an image is, before seeing them all together, in unlikely combinations, among the image files that I accumulate.

In what way(s) is the theme of the body explored in your works? The body exists in my work as an objective tool that we all have to relate to the world. While I often use my body image, it's for convenience rather than self-representation. If my body changed, or if it were different, it would still be my tool of existence, just as any body is the portal through which a person connects to the world. The body also holds our traumas, perceptions, experiences, and illnesses. Nudity is often seen as sexual or erotic because the body is frequently on display. Consequently, the work may carry sexual or erotic undertones, depending on the observer's perspective and their imposed interpretations. My goal is not to reduce the body to a mere tool of seduction but to appreciate it as a physical entity that allows us, in a broader sense, to exist and feel. As I often cut or distort parts of my body, it is easier for it to be mine than that of someone close to me, who might be uncomfortable with my use of their image. But ideally, I hope that the body I use remains open to interpretation and resonant with experiences outside my own; as if it could be someone else, too.

Finally, what are you currently working on? Recently, I have been creating assemblages that extend beyond paper by incorporating more sculptural elements made from materials like metal and fabric. I am especially interested in gluing and assembling images in lead, due to its malleability like paper, and imposing weight. Additionally, I have been printing on fabric to create quilts featuring various scenes with different elements sewn onto them. Thematically, these pieces explore meanings of creation: the body as creator, the birth of everything, from which everything arises, which creates sprouts and is itself a receptacle. I am actively moving studios in London and preparing for upcoming events in the city next year.

 
 
 
 

Mariana Rebola utiliza diversos media, tais como a fotografia, video-performance e técnicas de impressão para retratar a mulher na vida adulta. Apesar de fazer uso da auto-representação, o seu trabalho apresenta um conjunto íntimo de metáforas visuais, representativas de várias inquietações, particularmente provenientes de relações de género, poder, afirmação e frustração pessoal.


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Como descreverias a tua prática?  De momento, a minha práctica combina meios plásticos como a fotografia, video-performance e técnicas de impressão para retratar os constrangimentos culturais e emocionais na vida adulta, ou maturação, da mulher. Apesar de fazer uso de imagética íntima e auto-representação, o trabalho é embutido com metáforas visuais que julgo transversais e representativas das inquietações da experiência adulta, particularmente quando toca a relações de género, poder, e afirmação ou frustração pessoal. Frequentemente, utilizo imagens de arquivo de artefactos, fragmentos, fenómenos ou seres naturais e sobrenaturais, evocando uma perspetiva primitiva e exploratória inerente à nossa existência corporal.

Como caracterizas o teu processo de trabalho? Sinto que é um processo poroso, de ocasional sucesso e muita procura. Materialmente, baseia-se na procura de imagens que considero simbólicas, encontradas em segunda-mão e previamente descartadas, e na gravação em vídeo e/ou captura fotográfica do corpo em diferentes níveis de esforço, postura e movimentos. Colando ou justapondo-as com as imagens de um corpo semi-anónimo, surgem composições evocativas, mais ou menos relacionados com experiências menos felizes, conturbadas, confusas… Como uma prática terapêutica, por vezes. Contudo, tento que o resultado não seja demasiado premeditado, moralista, ou referencial, e que o trabalho não exista apenas enquanto auto-retrato. De forma mais indireta, o meu processo bebe também de influências literárias. Valorizo muito escritoras que, no seu trabalho, equilibram a partilha de circunstâncias individuais com uma qualidade cativante e sensível. Que nos envolvem na multiplicidade da experiência e perceção humana, individual ou coletiva, retratando diferentes níveis de deslumbramento com o mundo ou violência, crueza do real. Escritoras como Etel Adnan, Toni Morrison, Maya Angelou, Jeanette Winterson, Annie Ernaux - ou Luiza Neto Jorge, Sophia de Mello Breyner, ou Maria Lamas.

Quais os critérios que usas na selecção e apropriação de imagens para o teu trabalho?  As imagens que encontro podem ser retiradas de livros de história, mundo natural, mitologia, boas maneiras, arqueologia, joalharia, arquitetura, ou revistas de “beleza”, moda… Depende do que encontro e do que faz sentido, em diferentes estados de espírito. Tenho o cuidado de evitar uma apropriação insensata de referências desligadas do meu próprio passado, cultural ou pessoalmente. Quanto às imagens pessoais onde figura o corpo, imprimo quase todos os still-frames de um vídeo e qualquer fotografia que tire; pois por vezes, as poses mais naturais ou relaxadas são as que mais se dispõem a significados fortes, alguma carga social. É difícil prever quão “boa” ou “má”, em termos utilitários, é uma imagem, antes de as ver todas juntas, em combinações improváveis, no meio dos arquivos de images que vou acumulando.

De que forma(s) é explorada a temática do corpo nas tuas obras?   O corpo existe no meu trabalho enquanto ferramenta objetiva que todos temos de nos relacionarmos com o mundo. Apesar de usar muito a imagem do meu corpo, faço-o por uma questão de conveniência, não de auto-representação; se o meu corpo mudar, ou se fosse outro, continuaria a ser a minha ferramenta de existência, tal como qualquer corpo é o portal através do qual uma pessoa se liga ao mundo. É também o corpo que carrega os nossos traumas, percepções, experiências, doenças. Como é um corpo frequentemente nu, e a nudez ainda é muito vista de forma sexual ou erótica, o trabalho pode ter cargas sexuais e/ou eróticas, dependendo de quem o vê e do que lhe impõe. Mas não intenciono reduzir o corpo a uma ferramenta de sedução, mas sim abordá-lo como um elemento físico que nos permite, de forma muito mais abrangente, existir e sentir. Como, muitas vezes, corto ou distorço partes do corpo, é mais fácil que seja o meu do que o de alguém próximo, que poderia ficar desconfortável com a meu uso da sua imagem. Mas, idealmente, espero que o corpo que uso se mantenha aberto a interpretação, e ressonante com vivências alheias às minhas; como se pudesse ser outro, também.

Por último, em que estás a trabalhar atualmente? Recentemente, ando a criar montagens que não se cinjam ao papel, com características mais escultóricos, seja em metal ou tecido Estou especialmente interessada em colar e montar imagens em chumbo, pela sua maleabilidade como papel e peso impositivo. Além disso, tenho feito também impressão em tecido para criar colchas retalhadas com diferentes cenas, de diferentes elementos cosidos sobre o corpo. Tematicamente, estas peças exploram significados de criação: o corpo como criador, o parto de tudo, de onde tudo surge, que cria rebentos e é em si um recetáculo. E logísticamente, encontro-me em processo de mudança de estúdios em Londres, a a preparar potenciais eventos na cidade no próximo ano.

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